segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CRISTO REDENTOR: PEDIDOS PARA USAR IMAGEM DOBRAM EM DOIS ANOS


Prestes a completar 80 anos, o maior símbolo do país vem sendo cada vez mais usado em campanhas de marketing. De fabricante de bebidas a bancos, o interesse das empresas pelo monumento mais que dobrou nos últimos dois anos, revela a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, detentora dos direitos autorais do ícone. A demanda está tão em alta que será contratada uma empresa para monitorar o uso indevido do símbolo cristão.


Em 2009, foram 24 pedidos feitos por companhias privadas, dos quais 15 foram negados.

Em 2010, o total de solicitações chegou a 46, mas 20 não obtiveram autorização da Arquidiocese.

Este ano, com dados até agosto, o número impressiona: 40 solicitações recusadas e 16 aprovadas. E a procura só aumenta: atualmente, há negociações em andamento, por exemplo, com uma empresa de alimentação, que fará um comercial global, e com uma companhia aérea internacional.

Neste ano, a AmBev usou o Cristo para lançar o Lipton Mate, que chegou primeiro ao mercado carioca. Destaque também para a máquina fotográfica da Nikon e para a ação institucional do Bradesco. Ao mesmo tempo, a Arquidiocese proibiu, por exemplo, o uso do monumento para uma campanha de roupa íntima, de bebida alcoólica e até, acredite, de uma rede de motel.
 
- A tendência é que haja um aumento no número de campanhas até por conta dos eventos que irão acontecer no Rio de Janeiro. O Cristo é a grande figura da cidade e do Brasil. Só autorizamos o uso da imagem desde que sejam mantidas a integridade de Jesus Cristo e sua doutrina, a ética e a dignidade humana. A análise da campanha dura uma semana e envolve dez pessoas. Já tivemos pedidos até para autorizar um jantar romântico à luz de velas aos pés do monumento – ressalta padre Marcos William Bernardo, Vigário Episcopal para Comunicação da Arquidiocese.

O padre Marcos William explica que não há cobrança pelo uso da imagem do Cristo. O modelo adotado pela Arquidiocese, diz, é o de doações, que são feitas pelas empresas. As companhias dizem que o valor varia de R$ 5 mil a R$ 20 mil. A Arquidiocese lembra que os recursos são destinados a ações sociais e à manutenção do monumento, eleito, em votação internacional pela internet em 2007, uma das sete novas maravilhas do mundo:

- Criamos também a Ação de Amor do Cristo Redentor, que começa dia 8 em Realengo e vai levar serviços à população. Já temos a parceria da Oi e da Vale, entre outros – afirma.

Não faltam exemplos de empresas e instituições que utilizam o Cristo para reforçar suas campanhas. A Embratur é uma das que mais recorrem ao monumento para divulgar a imagem da cidade no exterior. Recentemente, o governo do Estado do Rio usou o ícone na campanha “Rio, marca registrada do Brasil”. Do lado empresarial, além da TIM, a TAM criou a campanha “Paixão pelo Rio”. Famosa por suas máquinas profissionais, a Nikon quer se aproximar da classe média, com modelos populares. Fred Siqueira, diretor de criação da agência WMcCann, diz que a ideia é usar cenas cotidianas para marcar a primeira campanha no país.

A peça retrata um garoto em frente ao Cristo Redentor, de braços abertos, fazendo o gesto da cruz.

- O monumento enaltece a felicidade e a emoção sentida no momento da foto – diz Siqueira.

A AmBev retratou o Rio visto dentro de uma garrafa para anunciar o Lipton Mate. Além da praia, o Cristo, usado pela primeira vez pela companhia, ganhou destaque nas peças.

- Como os cariocas são os maiores apreciadores de chá mate, quisemos que eles se sentissem homenageados – diz Lillian Dakessian, gerente de Marketing de Lipton, lembrando que foi feita doação para cobrir as despesas com manutenção do ícone.

O Bradesco já usou o bondinho de Santa Teresa, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Praia de Copacabana. Desta vez, optou pelo Cristo para divulgar as ações feitas no Rio. Alexandre Gama, presidente da Neogama/BBH, agência responsável pelas peças, acredita que paz, fé e crença no futuro são os principais atributos do monumento:

- A questão não é quando usar a imagem do Cristo, mas sim como. O desafio é fazer de uma maneira correta, com bom gosto. E tentar sair do uso da imagem como um clichê. O Cristo também é usado em edições comemorativas. Foi o que fez a Lafarge para promover os 75 anos do cimento Mauá, que consumiu investimentos de R$ 500 mil.

- Usamos a imagem do Cristo em nossas embalagens. Por isso, tivemos de mudar todo o processo fabril. Nosso objetivo foi mostrar a identificação da marca com o Rio – afirmou Antônio Santos, gerente geral de Marketing da Lafarge Cimentos.

Mas também há polêmica. Recentemente, o site de paquera Ohhtel.com, que promove a traição entre casais, decidiu usar a imagem do Cristo em um outdoor com os dizeres “Tenha um caso agora! Arrependa-se depois” para chamar a atenção. Segundo Karen Meohas, gerente de marketing da empresa, o objetivo era fazer uma conexão com os moradores do Rio.

- Ficamos sabendo que a Arquidiocese não gostou e decidimos retirar o outdoor, que estava na Barra.( SIC!)

Nós compramos a foto em um banco de imagens internacional, que, como muitos outros, vende inúmeras imagens do Cristo como se eles fossem os detentores desse direito. Alertamos, inclusive, a Arquidiocese sobre isso.

Fonte: Jornal O Globo

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