O MUNDO E
A FÉ SEGUNDO O PAPA FRANCISCO
REVISTA
VEJA - 20 de março de 2013 – edição 2313 – ano 46 – n°12, pgs. 70/71
Como arcebispo de Buenos Aires, o novo
pontífice refletiu com clareza sobre questões fundamentais do cotidiano
CRENÇA
A Igreja defende a
autonomia das questões humanas. Uma autonomia saudável é uma laicidade
saudável, em que se respeitam as diferentes competências. A Igreja não
vai diz, aos médicos como devem realizar uma operação. O que não é bom é o laicismo
militante, aquele que toma uma posição antitranscendental ou que o
religioso não saia da sacristia. A Igreja dá os valores, e os
outros que façam o resto.
DEUS
“Ao homem de hoje lhe
diria que faça a experiência de entrar na intimidade para conhecer a
experiência, o rosto de Deus. Por isso me agrada tanto o que disse Jó
depois de sua dura experiência e de diálogos que não lhe esclareceram
nada: ‘Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com
meus próprios olhos’. Ao homem, digo que não conheça a Deus de ouvidos.
O Deus vivo é aquele que se vê com seus olhos, dentro de seu coração.
DIVÓRCIO
“A discussão em torno do
divórcio é diferente daquela do matrimônio de pessoas do mesmo sexo. A
Igreja sempre repudiou a lei do divórcio, mas há antecedentes
antropológicos distintos neste caso. (…) É um valor muito forte no
catolicismo o casamento até que a morte os separe. Hoje, contudo na
doutrina católica, lembra-se a seus fiéis divorciados e recasados que
eles não estão excomungados – ainda que vivam em uma situação à margem
do que exigem a indissolubilidade matrimonial e o sacramento do
matrimônio – e é pedido a eles que participem da vida paroquial.”
ABORTO
“O problema moral do
aborto é de natureza pré-religiosa. No momento da concepção está o
código genético da pessoa. Ali já existe um ser humano. Separo o tema do
aborto de qualquer – concepção religiosa. É um problema científico. Não
permitir o desenvolvimento de um ser que já dispõe do código genético
de um ser humano não é ético. Abortar é matar alguém que não pode se
defender.”
ATEÍSMO
“Quando eu me encontro
com pessoas ateias, compartilho com elas as questões humanas, mas não
coloco logo de cara em discussão a questão de Deus, exceto se elas me
incitam a isso. Quando isso ocorre, eu explico a elas por que creio. (…)
Não pretendo fazer proselitismo – eu as respeito e me mostro como sou.
(…) Não tenho nenhum tipo de reticências. Não diria que um ateu está
condenado porque estou convencido de que não tenho o direito de julgar
sua honestidade – sobretudo se ele tiver virtudes, aquelas que
engrandecem as pessoas. De toda forma, conheço mais gente agnóstica do
que ateia. O agnóstico duvida; o ateu está convencido. Temos de ser
coerentes com a mensagem que recebemos da Bíblia: todo homem é a imagem
de Deus, seja ele crente ou não. Por essa única razão, tem uma série de
virtudes, qualidades, grandezas. Caso tenha baixezas, como eu também as
tenho, podemos compartilhá-Ias para nos ajudarmos mutuamente a
superá-Ias.”
CIÊNCIA
“A ciência tem sua
autonomia, que deve ser respeitada e encorajada. Não se deve interferir
na autonomia dos cientistas. Exceto se extrapolarem seu campo de atuação
e se envolverem com o transcendente. A ciência é fundamentalmente
instrumento do mandato de Deus, que disse: ‘Tenham muitos e muitos
filhos, espalhem-se por toda a terra e a dominem’. Dentro de sua
autonomia, a ciência transforma a incultura em cultura. Mas cuidado:
quando a autonomia da ciência não põe limites a si mesma e vai além, ela
pode sair das mãos de sua própria criação. É o mito de Frankenstein.”
IGREJA
“Uma coisa boa que
aconteceu com a Igreja foi a perda dos Estados Pontifícios, porque deixa
claro que a única posse do papa é meio quilômetro quadrado. Mas, quando
o papa era rei temporal e rei espiritual, aí se misturavam as intrigas
de corte e tudo isso. Agora não se misturam? Sim, ainda existe isso,
porque existe ambição em homens da Igreja, existe – lamentavelmente –
pecado de carreirismo. Somos humanos e nos tentamos, temos de estar
muito atentos para cuidar da unção que recebemos, porque ela é um
presente de Deus. As disputas pelo poder, que existiram e existem na
Igreja, se devem a nossa condição humana. Mas, nesse momento, a pessoa
deixa de ser eleita para o serviço e se converte em uma pessoa que
escolhe viver como quer e se mistura com o lixo interior.”
“Um líder religioso pode
ser muito forte, muito firme, mas isso sem exercer a agressão. Jesus
disse que aquele que manda deve ser como aquele que serve. Para mim,
essa ideia é válida para a pessoa religiosa de qualquer credo. O
verdadeiro poder de uma liderança religiosa vem de seu serviço. Quando
deixa de servir, o religioso se transforma em um mero gestor, em um
agente de ONG. O líder religioso compartilha, sofre, serve a seus
irmãos.”
PEDOFILIA
“Que o celibato traga
como consequência a pedofilia está descartado. Mais de 70% dos casos de
pedofilia se dão no entorno familiar e na vizinhança: avôs, tios,
padrastos e vizinhos. O problema não está vinculado ao celibato. Se um
padre é pedófilo, ele o é antes de ser padre. Agora quando isso ocorre,
jamais se deve fazer vista grossa. Não se pode estar em uma posição de
poder e destruir a vida de outra pessoa. (…) Não creio em posições que
pleiteiam sustentar certo espírito corporativo para evitar danos à
imagem da instituição. Esta solução creio que foi proposta certa vez nos
Estados Unidos: mudar os padres de paróquia. Isso é uma estupidez
porque, dessa forma, o padre leva o problema na bagagem. A reação
corporativa leva a tal consequência, por isso não concordo com essas
medidas. Recentemente, na Irlanda, foram revelados casos após vinte
anos, e o papa disse claramente: ‘Tolerância zero com este crime’.
Admiro a valentia e a retidão de Bento XVI sobre esse assunto.”
TENTAÇÃO
“A vida cristã também é
uma espécie de atletismo, de disputa, de corrida, em que é preciso se
desvencilhar das coisas que nos separam de Deus. Além disso, quero
salientar que uma questão é o demônio e outra é demonizar as coisas ou
as pessoas. O homem está sob tentação constante, mas não é por isso que
remos de demonizá-lo.”
UNIÃO HOMOSSEXUAL
“Não sejamos ingênuos:
não se trata de uma simples luta política. Pretende-se a destruição do
plano de Deus. É uma jogada do pai da mentira para confundir e enganar
os filhos de Deus.”
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Blog: Carmadélio
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