domingo, 6 de outubro de 2013

Qual a relação da fé e da “consciência” na salvação eterna?

 
 
 
Fé e Consciência
Recentemente, o Papa Francisco abordou questões sobre fé e consciência em uma carta dirigida a um editorialista do jornal italiano “La Repubblica”.
Foi perguntado ao Papa se o Deus dos cristãos perdoa os que não acreditam nele e não buscam a fé. O Papa explicou que Deus é misericordioso e leva em conta uma resposta sincera da consciência, porque “o pecado, inclusive para aqueles que não têm fé, é ir contra sua própria consciência”. Escutar e obedecer à consciência – afirmou o Sumo Pontífice – “significa decidir diante do que se percebe como bem ou como mal. E sobre essa decisão está a bondade ou a maldade das nossas ações”.
Como entender este raciocínio do Papa?
A Igreja ensina que o pecado requer pleno conhecimento e pleno consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato. Certa vez, o memorável Papa João Paulo II explicou que “se o ser humano perceber pela própria consciência uma chamada, mesmo errônea, que no entanto lhe pareça inquestionável, deve sempre e em todo caso atendê-la. O que não lhe é permitido é aderir culposamente ao erro, sem procurar chegar à verdade”. João Paulo II também recordou a conhecida posição de Santo Tomás de Aquino, que considerava ilícito o ato de fé em Cristo feito por quem, por absurdo, estivesse convencido em consciência de agir mal ao fazê-lo.
O Concílio Vaticano II pôde afirmar que “aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por meio do ditame da consciência podem conseguir a salvação eterna” (Constituição Lumen gentium n° 16).
O magistério da Igreja explica que “enquanto rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado contra o primeiro mandamento” (Catecismo da Igreja Católica n° 2.140). Jesus Cristo explicitou o primeiro e o máximo mandamento da lei de Deus com estas palavras: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento” (Mateus 22,37). A Igreja considera que Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho. Pois “sem a fé é impossível agradar-lhe” (Hebreus 11,6). Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar todos os homens.
Sabemos que a consciência, como juízo de um ato, não está isenta da possibilidade de erro. A Igreja ensina que “a consciência não é uma fonte autônoma e exclusiva para decidir o que é bom e o que é mau; pelo contrário, nela está inscrito profundamente um princípio de obediência relacionado com a norma objetiva, que fundamenta e condiciona a conformidade das suas decisões com os mandamentos e as proibições que estão na base do comportamento humano” (Papa João Paulo II: encíclica Veritatis splendor nº 60).
Dentro de um clima de diálogo sincero e considerando as afirmações de Jesus Cristo sobre a necessidade da fé para a salvação (Marcos 16,16; João 3,36), a Igreja convida cortesmente os ateus a considerar com espírito aberto o Evangelho de Cristo.
Autor: LUÍS EUGÊNIO SANÁBIO E SOUZA. Escritor

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